O calor extremo chegou a um novo recorde nesta terça-feira (4), atingindo 17,18°C. Foi a segunda marca batida em dois dias: na segunda-feira (3), a média de temperatura global tinha alcançado 17,01°C, superando o maior índice registrado pelos cientistas até então, de 2016.
Dados do Centro Nacional de Previsão Ambiental dos Estados Unidos, ligado à Administração Oceânica e Atmosférica (Noaa, na sigla em inglês), indicam que a anomalia (ou seja, quanto a temperatura registrada foge do padrão histórico para este dia) chegou a 0,98°C.
A culpa pelas altas temperaturas vistas não só nestes dias, mas ao longo das últimas semanas, são consideradas a soma de dois fatores: as mudanças climáticas provocadas pela ação humana e o início do El Niño, fenômeno caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico, perto da linha do Equador.
A média de temperatura global é puxada pelo verão do hemisfério norte, que começou no final de junho e vai até o final de agosto. Assim, é possível que esse tipo de situação se repita até o final da estação.
No último dia 15, o serviço de observação europeu Copernicus apontou que o começo de junho foi o mais quente já registrado e que o recorde foi superado por uma "margem substancial". O índice foi precedido por um mês de maio em que a temperatura da superfície oceânica também foi recorde.
O físico Paulo Artaxo, professor da USP e um dos membros do IPCC, o Painel Internacional para Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas, explica que números como esses apontam para um verão mais severo do que o previsto.
"O alerta sobre o mês de junho ter sido o mais quente de toda a série temporal mostra uma tendência de médio e de longo prazo", afirma. "Muito provavelmente o verão no hemisfério norte vai ser mais quente do que o esperado."
O cientista acrescenta que isso deve acender um alerta também para o Brasil.
"O Brasil tem uma vulnerabilidade muito grande para as mudanças climáticas, particularmente por ser situado em uma região tropical —ou seja, já está nas áreas mais quentes do planeta. Uma coisa é aumentar 3°C ou 4°C [na média de temperatura] no Brasil e outra 3°C ou 4°C na Suécia. A nossa vulnerabilidade é muito maior", diz, fazendo referência aos cenários de aquecimento mais acentuado traçados pelo IPCC.
CALOR EXTREMO AO REDOR DO MUNDO
O sul dos Estados Unidos tem sofrido nas últimas semanas com um domo de calor, nome dado ao fenômeno que ocorre quando a atmosfera retém o ar quente e forma uma espécie de tampa em uma determinada região.
Na China, uma onda de calor persistente tem levado a temperaturas acima de 35°C, e o norte da África tem registrado quase 50°C.
Até mesmo a Antártida, no inverno, registrou temperaturas anormalmente altas neste ano. A base de pesquisa Vernadsky, da Ucrânia, nas ilhas Argentinas, recentemente quebrou seu recorde de temperatura em julho, com 8,7°C.
Fonte: Jéssica Maes/Folhapress