A PolĂcia Federal cumpriu na manhã desta segunda-feira (29) mandados de busca e apreensão para avançar na investigação sobre a atuação da chamada "Abin Paralela" no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Um dos alvos é Carlos Bolsonaro (Republicanos), vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente. Na nova ação, a PF mira pessoas que foram destinatĂĄrias das informações produzidas de forma ilegal pela agĂȘncia de inteligĂȘncia do governo federal.
Segundo a PF, as medidas cumpridas tĂȘm como objetivo "avançar no nĂșcleo polĂtico, identificando os principais destinatĂĄrios e beneficiĂĄrios das informações produzidas ilegalmente no âmbito da Abin [AgĂȘncia Brasileira de InteligĂȘncia]".
No gabinete de Carlos, no Rio, os agentes levaram um notebook, computadores desktop e documentos. JĂĄ na casa da famĂlia em Angra dos Reis (RJ) o celular e um outro computador de Carlos foram apreendidos pela PF.
Outros alvos da operação são a assessora Luciana Paula Garcia da Silva Almeida e o chefe de gabinete de Carlos, Jorge Fernandes. Este Ășltimo também é alvo de outra investigação junto com o vereador. Fernandes é suspeito de ser o operador de um suposto esquema de "rachadinha" no gabinete de Carlos.
Também é alvo Priscila Pereira e Silva, ex-assessora de Alexandre Ramagem, chefe da Abin sob Bolsonaro e alvo da operação da PF na Ășltima semana. A defesa de nenhum deles ainda se manifestou.
Relatórios produzidos pela agĂȘncia sob Bolsonaro e o uso do software espião First Mile estão no centro da investigação da PF.
Os investigadores afirmam que oficiais da Abin e policiais federais lotados na agĂȘncia monitoraram os passos de adversĂĄrios polĂticos de Bolsonaro e produziram relatórios de informações "por meio de ações clandestinas" sem "qualquer controle judicial ou do Ministério PĂșblico".
O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não permite os chamados "grampos", como acesso a conteĂșdos de ligação ou de trocas de mensagem.
Além de Carlos, os policiais também investigam suposto uso da agĂȘncia para favorecer FlĂĄvio e Jair Renan.
Em live neste domingo (28), ao lado dos filhos FlĂĄvio, Carlos e Eduardo, Bolsonaro negou que tenha criado uma "Abin paralela" para espionar adversĂĄrios. JĂĄ nesta segunda o ex-presidente disse que a intenção da operação é a de "esculachar" com ele e sua famĂlia.
"Querem me esculachar, me fazer passar por constrangimento", diz ele. "Estão jogando rede, pescando em piscina. Não tem peixe", completou Bolsonaro.
Um dos locais em que a PF cumpriu mandado de busca e apreensão nesta segunda (29) é a casa de Bolsonaro em Angra dos Reis, no litoral do Rio de Janeiro. O local entrou na lista de buscas da PF após a descoberta que Carlos estava na casa, de onde transmitiu uma live com o pai neste domingo (28).
O vereador acordou com a notĂcia de que era um dos alvos da PF quando se preparava para passar mais um dia na praia com o pai em Mambucaba, uma vila histórica de Angra.
A casa estava vazia pela manhã quando a PolĂcia Federal chegou ao local. Bolsonaro e seus filhos haviam saĂdo para pescar e ainda não haviam retornado. Imagens divulgadas pela GloboNews no final da manhã mostraram Bolsonaro e seus filhos do lado de fora da casa acompanhando a saĂda de agentes da PF que cumpriram as buscas na residĂȘncia.
Além da casa de Angra, são alvos da PF o gabinete do vereador e uma residĂȘncia no Rio de Janeiro. A ação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e também são cumpridos mandados em BrasĂlia (DF), Formosa (GO) e Salvador (BA).
A ação desta segunda-feira é um desdobramento das operações Vigilância Aproximada, deflagrada pela PolĂcia Federal na Ășltima quinta-feira (25), e da Ăltima Milha, realizada em outubro de 2023.
Na operação da semana passada, o foco principal foram policiais que atuavam na Abin, em especial no CIN (Centro de InteligĂȘncia Nacional), estrutura criada durante a gestão Bolsonaro. Ao todo, sete policiais federais foram alvos da ação. Foram expedidos mandados de busca e apreensão inclusive contra Ramagem, diretor da agĂȘncia na época em que o uso ilegal do software teria ocorrido.
O CIN foi criado durante a gestão de Ramagem e teria produzido relatórios e utilizado o FirstMile em favor de interesses do governo Bolsonaro. Ramagem é muito próximo da famĂlia Bolsonaro, em especial de Carlos Bolsonaro, alvo da PF nesta segunda-feira (29).
A ligação entre os dois foi um dos motivos de Ramagem ter seu nome barrado por Moraes, do STF, para o comando da PF, em 2020. À época, a relação de amizade dos dois jĂĄ era conhecida e os dois passaram juntos a festa da virada de ano de 2019 para 2020.
As suspeitas que vieram à tona na operação da semana passada causaram reação polĂtica em BrasĂlia, com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, falando em "um dos maiores escândalos da história" e a "ponta de um novelo que envolveu dezenas de milhares de pessoas".
Por outro lado, o caso deve causar ainda mais tensão na relação de parte do Congresso com o Supremo, jĂĄ que foi a segunda operação em pouco mais de uma semana com buscas dentro da sede do Legislativo.
Bolsonaristas tentam articular medidas para rever os poderes do STF na volta do recesso, em fevereiro, e dizem que hĂĄ perseguição polĂtica.
Na semana passada, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) escreveu em rede social: "Mais um capĂtulo da ditadura do JudiciĂĄrio. Cabe ao Senado brecar esta perseguição e preservar as liberdades".
De acordo com a PF, a "Abin Paralela" criada na gestão Ramagem tentou atrelar Moraes e o também ministro do STF Gilmar Mendes à facção criminosa PCC. Para a corporação, as informações sobre a tentativa de ligar os ministros ao PCC foram encontradas em documentos apreendidos na Abin.
"O arquivo Prévia Nini.docx mostra a distorção, para fins polĂticos, da providĂȘncia, indicando a pretensão Ășltima de relacionar a advogada Nicole Fabre e os Ministros do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital – PCC, alimentando a difusão de fake news contra os magistrados da Suprema Corte", disse a PGR sobre os documentos achados pela PF.
A PF afirma que a Abin sob Ramagem também se valeu do software FirstMile para monitorar o então presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e a ex-deputada Joice Hasselmann, ambos desafetos polĂticos de Bolsonaro.
Fonte: Fabio Serapião/Folhapress