Após retornar de viagem à Europa, o presidente Lula (PT) vai intensificar as negociações por trocas na Esplanada para consolidar a entrada de parlamentares do PP e do Republicanos no governo, no que tem sido tratado como uma minirreforma ministerial.
Parlamentares e integrantes do Planalto relatam que os cargos que serão ofertados estão em aberto e que caberá a Lula bater o martelo, mas membros do centrão dizem que não aceitarão pastas de baixo orçamento e com pouca capilaridade. Segundo relatos, a única pasta blindada pelo petista até o momento é a da Saúde.
Para membros do PP, há uma linha de corte para entrar no governo, e a pasta que eles miram ocupar deve ser igual ou maior que o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo Bolsa Família, sobre o qual o presidente já deu declarações públicas de que não vai ceder.
Segundo um integrante do centrão, seguem essa lógica os ministérios da Saúde, da Educação e da Integração e Desenvolvimento Regional, co mandados por Nísia Trindade, Camilo Santana (PT) e Waldez Góes, respectivamente. Licenciado do PDT, Góes é indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP).
Lula voltou da Bélgica nesta quarta-feira (19) e tem prevista para esta quinta (20) uma reunião com o núcleo duro do Palácio do Planalto, entre eles os ministros Alexandre Padilha (Secretaria de Relações Institucionais) e Rui Costa (Casa Civil).
Por mais que sejam corriqueiras reuniões do presidente com os ministros, a expectativa é que as possibilidades de mudança na Esplanada sejam tema do encontro.
Neste primeiro momento, dizem aliados, Lula se atualizará das conversas que ocorreram em sua ausência e irá se debruçar sobre o quebra-cabeça para rearranjar o comando dos ministérios. Nas palavras de um auxiliar, o petista irá "refletir e analisar" o cenário possível.
Segundo pessoas familiarizadas com as negociações, somente na próxima semana o presidente deverá se reunir com lideranças do PP e Republicanos para dar continuidade às negociações.
Há a possibilidade, no entanto, de que Lula se encontre ainda nesta semana com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), que também retornou de viagem internacional. Não há, porém, nenhuma reunião agendada.
Aliados de primeira hora do presidente reconhecem que será necessário cortar "na carne" para abrigar os deputados do centrão. Nesse cenário, a expectativa é que Lula tenha de realocar ou demitir integrantes do próprio PT, ou de partidos aliados, como PSB e PC do B, para dar lugar a PP e Republicanos.
Integrantes do Palácio do Planalto têm feito uma série de desenhos em busca de uma solução para acomodar o centrão.
Em um esboço, aliados de Lula trabalham com a hipótese de ceder o Ministério de Portos e Aeroportos, ocupado por Márcio França (PSB). Em outro, há a especulação de transferir a ministra Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), que é do PC do B, para a pasta das Mulheres, exonerando, assim, a ministra Cida Gonçalves, alvo de críticas no governo.
Como a Folha mostrou, a pressão de partidos do centrão por mais ministérios pode custar a Lula a perda do recorde da participação de mulheres no primeiro escalão. Na semana passada, foi oficializada a troca de Daniela Carneiro por Celso Sabino à frente da pasta do Turismo.
Outro desenho para a negociação leva em consideração o desejo do centrão pela Caixa Econômica Federal. Uma ala do governo defende ceder a presidência da estatal, já que Rita Serrano, à frente do órgão, tem recebido reclamações de integrantes do próprio PT.
Outra ala, porém, afirma que o comando da Caixa é estratégica por ser o órgão responsável por liberar os empréstimos para o Minha Casa, Minha Vida e os pagamentos do Bolsa Família. Nesse cenário, o governo cederia só vice-presidências do banco ao centrão e poderia colocar uma pessoa de confiança de Lula para comandá-lo. Um nome aventado nesta hipótese é o da secretária-executiva da Casa Civil, Miriam Belchior (PT).
Na terça-feira (18), Padilha se reuniu com os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA), líder da sigla na Câmara. Os dois podem assumir ministérios.
Segundo relatos, os parlamentares saíram das conversas com a impressão de que não há nenhum ministério vetado nas negociações, exceto Saúde. A avaliação de congressistas é que, caso necessário, Lula poderá abdicar do Ministério do Desenvolvimento Social e do Esporte, mesmo após o presidente tentar blindar as pastas.
Apesar disso, membros do governo ressaltam que caberá a Lula sacramentar as mudanças. Na noite de terça, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirmou a jornalistas que PP e Republicanos serão "incorporados no governo", mas falta uma definição da Presidência.
"A tese de incorporar esses partidos [PP e Republicanos] no governo já está consolidada. Igualmente esses nomes que surgiram na imprensa que foram indicações dos partidos", disse Guimarães.
De acordo com relatos, as prováveis nomeações de Fufuca e Costa Filho serão atribuídas à cota pessoal de Lula –isso porque os partidos seguirão adotando a linha de que são independentes.
Inicialmente, o PP havia pedido para ocupar o Desenvolvimento Social e o Republicanos, o Esporte. Além disso, PP também dava como certo que ocuparia a Caixa.
Ana Moser, titular do Ministério dos Esportes, está fora do país. Ela viajou para a Oceania para acompanhar a abertura da Copa do Mundo feminina e o primeiro jogo da seleção brasileira na competição.
Auxiliares de Lula, porém, passaram a afirmar que, embora alguns desses cargos possam ser negociados, não há certeza que o presidente vá oferecê-los. Pelo contrário. No caso do Desenvolvimento Social, a sinalização do mandatário foi a de que a pasta não entrará na negociação com o centrão.
"Esse ministério é um ministério meu. Esse ministério não sai. A Saúde não sai. Não é o partido que quer vir para o governo que pede ministério. É o governo que oferece o ministério", afirmou Lula em cerimônia no Palácio do Planalto na última semana.
A possibilidade de o governo ceder o ministério responsável pelo Bolsa Família, principal programa social do governo, foi aventada porque o próprio presidente tem feito críticas à atuação de Wellington Dias (PT), que comanda a pasta.
Fonte: Julia Chaib, Victoria Azevedo e Thiago Resende/Folhapress